“A democracia surgiu quando, devido ao fato
de que todos são iguais em certo
sentido, acreditou-se que todos fossem
absolutamente iguais entre si”, Aristóteles
O discurso
de ódio nas redes sociais tem crescido exponencialmente nos últimos anos. As
eleições de 2014 impulsionaram uma onda de postagens agressivas nas redes
sociais, situação que persiste até hoje e também é observada em outros países.
A grande
maioria dos discursos procura dividir grupos em direita e esquerda, norte/nordeste
e sul/sudeste, ricos e pobres, alfabetizados e analfabetos. Mas existe uma
separação tão clara?
A simples
definição de posicionamentos políticos, levando-se em conta apenas siglas, sem
entender a complexidade e heterogeneidade da sociedade promoverá erros de
avaliação repletos de clichês e preconceito.
Para
compreender este assunto é preciso observar como os termos ‘à direita’ e ‘à
esquerda’ foram criados.
Durante
assembleias realizadas na primeira fase da Revolução Francesa, no Século 18, a
população de classe média buscou o apoio dos mais pobres para reduzir os
poderes da nobreza e do clero. No
entanto, os grupos não se misturaram durante a Assembleia Nacional Constituinte
e ficaram separadas no salão, com pobres ‘à esquerda’ e nobres ‘à direita’.
Desta
forma, ser de esquerda presumiria a defesa dos direitos dos mais pobres/trabalhadores,
participação popular e igualdade de condições entre as classes, enquanto ser de
direita foi associado ao conservadorismo e à elite.
Esquerda e
direita indicam programas paradoxais e posições conflitantes em diversos temas,
mas também convergências em outras situações. A existência de ambos é
importante para toda a sociedade e estão diretamente relacionados a questões de
posicionamento ideológico e, em nenhum momento, estão relacionados a qualquer
tipo de desvio de conduta.
Ao longo
da história, posturas radicais foram assumidas por ambas ideologias, com
consequências parecidas: violência e censura contra opositores e perda de
direitos por parte da população.
Enquanto a
esquerda foi associada ao socialismo/comunismo, marxismo e anarquismo, por
exemplo, a direita participou de ideologias totalitárias como o nazismo,
fascismo e franquismo.
Estas
definições são mais flexíveis atualmente, principalmente pela diversidade das
sociedades e de posições adotadas por um ou outro grupo que se distanciam de
suas bases ideológicas.
As
revoluções, tradicionalmente relacionadas aos grupos de esquerda, sobretudo em
razão das obras de Marx e Engels, estão ligadas à direita no Brasil, como é o
caso da Ditadura Militar, combatida pelos grupos de esquerda.
Estas
definições são mais flexíveis atualmente, principalmente pela diversidade das
sociedades e de posições adotadas por um ou outro grupo que se distanciam de
suas bases ideológicas.
A Teoria
das Janelas Quebradas - que abordei em outro artigo http://migre.me/vY9AU -
está diretamente ligada a uma posição política de direita, ao passo que os
Direitos Humanos, legislação atrelada à ideologia de esquerda, foi fruto
justamente de ideais liberais de direita.
A
Constituição Federal, aliás, é composta por direitos criados a partir de
conceitos de direita quanto de esquerda, portanto, defender direitos
fundamentais não é exclusividade de nenhuma das posições políticas.
Com o
multipartidarismo, talvez até de forma exagerado no Brasil, as definições de ‘à
esquerda’ e ‘à direita’ foram ainda mais diluídas, com aparecimento de divisões
dentro de cada uma dessas ideologias.
A direita
passa a abranger várias frentes, entre as quais liberais e conservadores,
democratas-cristãos, nacionalistas, além da extrema direita. Enquanto a
esquerda se divide em progressistas, socialdemocratas, socialistas
democráticos, ambientalistas e a extrema-esquerda, com pensamentos extremos. O
sistema político atual compreende ainda a posição de ‘centro’, com suas
variações ‘à esquerda’ e ‘à direita’.
A partir
destas classificações é definida uma escala ideológica, mais clara em alguns
países, mas nem tanto para os brasileiros.
Um
levantamento realizado durante as eleições de 2014, com cidadãos de 70 cidades
espalhadas pelas cinco regiões confirmou que 41% dos mil entrevistados não
souberam definir seu posicionamento ideológico, tampouco o posicionamento das
principais siglas partidárias.
Os
conceitos de direita e esquerda são, cada vez mais, abstratos e relativos,
desta forma rotular pessoas é sinal desinformação, ignorância ou pobreza
mental. Ser ‘de direita’ ou ‘de esquerda’ pouco importa, pois somos iguais,
apesar das diferenças...
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